The Old King/O Velho Rei

The Old King/O Velho Rei
fotografia de Boris Horvath

A man is smoking, alone, a book on his knees. This image by the Portuguese photographer Daniel Blaufucks fertilizes Romeu Runa's and Miguel Moreira's play, to which it also gives its title, The Old King. The interiority of this depressed person, wandering in his thoughts, is unfurled in a set that evokes the chaos of the beginning or even the end of the world. Reptilian in appearance, the dancer Romeu Runa attempts to extracts himself from this nightmare: he twists, then unfolds to recover his human posture. He surveys, crawling, an enormous and desolate space in which only a few wooden pallets and a plant remain. Assaulted by the elements, he rises and, in adversity, ends up standing upright. Because The Old King traces the path of a man who hangs on to his lost humanity, or in any event, one damaged by solitude. The role of a man shut up in his animality, from which he distances himself by rediscovering his memories and reformulating a vision, a future from them. Under his impetus, the landscape changes colour and consistency, like a magma that its only inhabitant sustains and shapes. In a sensual and defiant body-to-body confrontation with the earth an abstract picture is drawn in which Romeu Runa develops an expressionistic dance, incarnating and projects the torments like the hopes of this mad king who reconquers an empire. To write this poem in choreographic prose, in which the syntax is as important as the rhymes, Miguel Moreira encourages him to push his language as far as possible, to not hold back the dislocations and contortions that characterize his styles. Alain Platel plays the role of the exterior view, critical and welcoming, contributing his sense of rhythm and composition to the two Portuguese artists. Together, they offer us a powerful play in which matter and the king's body sketch an abstract tableau in perpetual motion. RB

Um homem está a fumar, sozinho, com um livro no colo. Esta imagem do fotógrafo português Daniel Blaufucks inspira a peça de Romeu Runa e Miguel Moreira, à qual também dá o título, O Velho Rei. A interioridade desta pessoa deprimida, perdida nos seus pensamentos, desenrola-se num cenário que evoca o caos do início ou mesmo do fim do mundo. De aparência reptiliana, o bailarino Romeu Runa tenta libertar-se deste pesadelo: contorce-se, depois desenrola-se para recuperar a sua postura humana. Ele percorre, rastejando, um espaço enorme e desolado, no qual restam apenas algumas paletes de madeira e uma planta. Assaultado pelos elementos, ergue-se e, em adversidade, acaba por ficar de pé. Porque O Velho Rei traça o percurso de um homem que se agarra à sua humanidade perdida, ou, em qualquer caso, danificada pela solidão.

O papel de um homem fechado na sua animalidade, da qual se distancia ao redescobrir as suas memórias e reformular delas uma visão, um futuro. Sob o seu impulso, a paisagem muda de cor e consistência, como um magma que o seu único habitante sustenta e molda. Numa confrontação sensual e desafiante corpo a corpo com a terra, desenha-se uma imagem abstrata na qual Romeu Runa desenvolve uma dança expressionista, encarnando e projetando os tormentos como as esperanças deste rei louco que reconquista um império.

Para escrever este poema em prosa coreográfica, em que a sintaxe é tão importante quanto as rimas, Miguel Moreira encoraja-o a levar a sua linguagem ao limite, a não reter os deslocamentos e contorções que caracterizam o seu estilo. Alain Platel desempenha o papel da visão exterior, crítica e acolhedora, contribuindo com o seu sentido de ritmo e composição aos dois artistas portugueses. Juntos, oferecem-nos uma peça poderosa em que a matéria e o corpo do rei esboçam um tableau abstrato em perpétuo movimento.

RB

les ballets C de la B || Miguel Moreira & Romeu Runa || The Old King
Hoje terminei a edição de mais um projecto que me orgulho de fazer parte..como há tempos alguém e escreveu - eu, entre outras pessoas, sou um dos satélites do FMD!!..gostei da expressão!!.. Fotos, muitas fotos, ensaios, poucas horas de sono, viagens, horas…
The Old King
Le Festival d’Avignon est aujourd’hui l’une des plus importantes manifestations internationales du spectacle vivant contemporain.
The old King de Romeu Runa et Miguel Moreira - Sceneweb
Romeu Runa et Miguel Moreira sont des artistes emblématiques de la scène contemporaine portugaise. Face à la faiblesse des moyens alloués au spectacle vivant,
O Útero suja o palco do Teatro Nacional
Numa criação que comemora os 20 anos do Útero, a companhia atira-se às personagens de O Duelo, de Bernardo Santareno, e suja o palco do Teatro Nacional D. Maria II. A palavra adquire uma nova força numa linguagem que se tornou cada vez mais física.

Artigo de Gonçalo Frota de una peça que fizemos seis anos mais tarde